martes, 13 de octubre de 2009

SUSTENTABILIDADE


"O que é realmente necessário é uma nova geração de produtos e serviços baseados em novos valores e novos padrões de qualidade, mais coerentes com a transição para uma sociedade sustentável." Carlo Vezzoli.

1– Enquadramento
A ideia e o conceito entraram no nosso vocabulário associado à necessidade de encontrar soluções para os problemas ligados ao desenvolvimento, na sequência das assimetrias cada vez mais profundas entre pessoas, povos, países e regiões originadas pelo processo da globalização que nos afecta a todos.

Surge assim o conceito de desenvolvimento sustentável, que aparece, pela primeira vez, em 1987, expresso e definido pela Comissão Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento, como o “desenvolvimento que dá resposta às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras darem resposta às suas próprias necessidades”. Na sua essência, esta forma de desenvolvimento implica um equilíbrio entre o crescimento económico e a protecção ambiental, ou seja, entre as actividades humanas e o mundo natural. É também um produto do crescente sentimento de pertença à “Aldeia Global” que implica a necessidade de partilharmos recursos uns com os outros e cuidarmos juntos do planeta. Os Homens não devem explorar a natureza para além da sua capacidade de renovação, o que implica adoptar novos estilos de vida e novos caminhos para o desenvolvimento menos centrados no bem-estar pessoal e no lucro, e mais centrados no bem-estar colectivo e no respeito pela dignidade humana e pela natureza.

A partir de 1970, com forte incidência nos tempos actuais, tornou-se claro que o crescente desenvolvimento tecnológico da produção nas sociedades industriais cria problemas graves de desemprego, difíceis de resolver. Assim, a relação de causa-efeito que se acreditava existir entre desenvolvimento económico, progresso tecnológico e desenvolvimento social começou a ser questionada e o paradigma da modernização começou a tornar-se obsoleto. O ritmo cada vez mais acelerado da transformação social colocou-nos também novos desafios, novos paradigmas e novas teorias por forma a lidarmos com as novas questões ambientais, com as desigualdades sociais, económicas e de género, com a diversidade cultural e com os riscos tecnológicos. É neste contexto que nasce o conceito de desenvolvimento sustentável, de início com um cariz mais político do que científico. No começo, também, centrado sobretudo na questão da sustentabilidade ambiental, mas alargado nos últimos tempos a outras dimensões (em resposta às transformações sociais a que assistimos) como a social, a económica e a cultural.



2– Sustentabilidade – Uma âncora e oportunidade para o artesanato
A sustentabilidade está pois na ordem do dia, veio para ficar, e é um dos temas mais fortes da agenda mundial, não só do ponto vista mais ecológico e ambiental mas também social e económico.

As grandes empresas já despertaram para a questão, já puseram em marcha planos de desenvolvimento e crescimento sustentável e dedicam-lhes cada vez mais meios e energia.
Para as empresas, a sustentabilidade é uma questão de sobrevivência, de poupança de custos, de minimização de riscos e maximização de lucros, mas será também cada vez mais uma imposição para entrar em mercados exigentes e sofisticados e em concursos internacionais.
Já as pequenas e médias empresas, mais de 90% do sector empresarial, estão praticamente adormecidas e acabarão por entrar na onda arrastadas pelas grandes instituições, que no futuro não irão negociar com quem não respeite os códigos de conduta e as regras definidas no âmbito da sustentabilidade.

Mobilizar a sociedade para uma vida profissional com novas oportunidades constitui um imperativo social orientado por uma visão revivalista das antigas profissões que começam a ganhar viabilidade, despertadas pelo cansaço de uma civilização que nos agride e na qual os velhos saberes estão a readquirir uma nova dignidade.

Estamos a assistir a isto no despertar da agricultura biológica, no retorno à valorização do singular, na recuperação dos sabores naturais, no modismo do ambiente, na redescoberta de antigas profissões em vias de esquecimento e no regresso, que muitos já estão a fazer, à simplicidade das coisas naturais.

Neste sentido o artesanato afirma-se cada vez mais como uma componente essencial do desenvolvimento sustentável das regiões e dos territórios.

O artesanato ocupa assim um lugar muito especial no âmbito das actividades económicas. Poucos serão os sectores que, ao longo dos anos, têm combinado de forma tão perfeita um potencial económico e de criação de emprego, que são reconhecidos com uma vertente cultural e turística sempre presente, no respeito pelo ambiente e sustentabilidade.

No contexto de desenvolvimento global e das grandes e rápidas mudanças em que actualmente vivemos, só uma aposta na inovação, na criatividade e na tecnologia poderá impulsionar o progresso das actividades artesanais. É seguro que a criatividade e a inovação, quando respeitam a identidade e ancorados na sustentabilidade, constituem um factor diferenciador estratégico nas produções artesanais.

É decisivo fomentar o diálogo entre a identidade e a criatividade, entre a cultura e a inovação, apostando decididamente na inovação, mediante a utilização de novas tecnologias, novos materiais ou através da reinterpretação inovadora de produtos tradicionais.

Por esta razão, conceitos como mudança, inovação, adaptabilidade, criatividade, novas tecnologias, inovar no saber-fazer, novos conhecimentos e funções, devem constituir-se como práticas essenciais para as unidades produtivas artesanais.

Criatividade associada à identidade, à sustentabilidade e à qualidade são requisitos determinantes para o sucesso de muitas produções artesanais. É pelo menos isso que se pode inferir da aceitação pelo mercado de produções contemporâneas.

3– Criatividade com valores e Comércio Justo
Os projectos ligados ao artesanato devem assumir-se como um label social, ambiental e de qualidade tendo como objectivo último a implementação de um modelo de desenvolvimento sustentável. Além destas responsabilidades sociais e ambientais, pode pugnar também pela defesa do Comércio Justo e Solidário, como forma de contribuir para esse desenvolvimento sustentável.

Os recursos locais são a matéria-prima principal das produções, como sempre foram ao longo da história do equilíbrio entre a natureza e o homem. Mas os produtos daí resultantes, apesar de serem feitos artesanalmente, aliam a ancestralidade produtiva a novas linhas, design e funcionalidades. O experimentalismo produtivo é incentivado, numa lógica de transdisciplinaridade dos saberes.

O equilíbrio entre a sustentabilidade económica de todas estas micro-actividades, por um lado, e a preservação dos valores da sustentabilidade, por outro, deve fazer-se sempre inspirados nestes e nunca numa cedência ao mercantilismo que poderia derivar da estrita exploração comercial.

Pode o Artesanato incorporar na sua escala de valores a "Carta de Princípios do Comércio Justo e Solidário":

Fomento da micro-iniciativa e da economia local
Contacto próximo e baseado numa relação pessoal de confiança
Funcionamento em rede dos produtores e artesãos através do apoio e cooperação mútuos
Relações comerciais baseadas no diálogo, transparência e respeito entre produtores e artesãos
Redistribuição justa dos lucros entre produtor e vendedor
Fixação de preços reais e justos
Aposta na diferenciação através de uma qualidade genuína

4– Razões para a sustentabilidade
Três razões pelas quais a sustentabilidade tem de estar na agenda:
Pelo ambiente. Hoje, a discussão da sustentabilidade está a evoluir para as suas vertentes económica e social, mas não devemos esquecer que ainda estamos longe de assegurar a entrega do planeta, às futuras gerações, da mesma forma que o encontrámos.

Pelos consumidores. Uma empresa ou marca que não seja ambientalmente sustentável está condenada ao insucesso.

Mais que não seja, isso acontecerá porque os seus consumidores irão recusar-se a comprar produtos que ponham em risco a sustentabilidade ambiental. Isto obrigará, a breve prazo, à mudança de modelos de negócio, processos, tecnologias ou produtos - mas também de políticas de comunicação.

Pelo negócio e inovação. A sustentabilidade é hoje um dos principais drivers da inovação e do desenvolvimento empresarial. E não é mito que as empresas que apostam na sustentabilidade ambiental conseguem diminuir os custos e melhorar as receitas. Um edifício ambientalmente sustentável poderá ter um custo inicial superior mas, a médio prazo, terá o retorno deste investimento, através da poupança de energia ou água.

5– Frases Soltas
“O futuro passa por criar produtos artesanais capazes de relacionar tradições com qualidade e inovação, ligada ao conceito da sustentabilidade.”
“No artesanato para que se procurem soluções sustentáveis, é fundamental que, antes de mais, se compreendam os desafios e as oportunidades envolvidas na criação de um mundo mais sustentável. ”
“A inovação a partir da tradição com sustentabilidade, é uma “âncora” do artesanato. ”
“O Artesanato é identificado muitas vezes como uma produção Sustentável por utilizar materiais que não agridem o meio ambiente. ”
“Como demonstrar que aplicar os conceitos de Sustentabilidade em projetos de design é lucrativo. ”
“Temos que acreditar nos conceitos de Sustentabilidade. Cuidar do meio ambiente é obrigação de todos. Temos que aplicar isso em tudo que fazemos e transmitir essa filosofia para todos que me rodeiam. ”
“É necessário implementar acções sustentáveis de marketing, desenvolvimento e inovação de produtos, formação e gestão do conhecimento, contribuindo assim para o aumento do rendimento dos artesãos. ”
“A inovação e sustentabilidade vão andar muito juntas.”.
“Novos métodos de gestão e novos produtos inovadores que introduzam conceitos de respeito ao meio ambiente e à sociedade são a chave de futuro. ”
“A Educação é fundamental para o artesanato sustentável. ”
“Temos que estar orientados para a criação de soluções para sustentabilidade.”
Deveríamos exigir que as politicas premiassem tecnologias e bens ambiental e socialmente sustentáveis (IVA mais caro para produtos que não cumprem e mais barato para os que cumprem).

6– Questões para Reflexão
Há que saber responder às seguintes questões:
A.Como conciliar a inovação e a tecnologia com sustentabilidade?
B.Como assegurar que a sustentabilidade faça parte do processo criativo?
C.Como “casar” inovação com sustentabilidade?
D.Como deve o artesanato actuar, para valorizar os processos de inovação com sustentabilidade aos olhos dos agentes económicos e da sociedade?
E.O que tem o artesanato de fazer para, por um lado, compreender e antecipar as necessidades da sociedade e, por outro, os efeitos da inovação e das novas tecnologias?
F.Pode o Artesanato incorporar na sua escala de valores a "Carta de Princípios do Comércio Justo e Solidário"?
G.Como reforçar as competências educativas visando o “cuidar e educar” de crianças e adolescentes e adultos na cultura do respeito ao meio ambiente, da inovação e da criatividade?
H.Como tornar lucrativos os projectos de inovação no artesanato associados ao desenvolvimento sustentável?
I.Como orientar as políticas e os projectos do artesanato para a criação de soluções com sustentabilidade?
J.Como promover a mudança de hábitos de consumo de sociedade, para um consumo ético e responsável?
K.Poderá o artesanato e os artesãos contribuir para um mundo mais sustentável e mais justo?

Bibliografia
BENNEH, G.; MORGAN, W. & UITTO, J. (1996) Sustaining the Future — Economic, Social, and Environmental Change in Sub-Saharan Africa. UNUP.
GIDDENS, A. (2000) O Mundo na Era da Globalização. Lisboa: Editorial Presença.
MARQUES, RUI – Meios e Publicidade

Luís Rocha
Director do CEARTE

24 DE OCTUBRE DE 2009
SOSTENIBILIDAD (Eugeni Domingo y Luís Rocha).
Auditorio de la Fundación Fran Daurell.
www.iberiona.org

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